Nossa Filosofia
Umbanda Portas Abertas
Os pilares do nosso terreiro são: fé, humildade, amor e caridade. Somos “portas abertas” porque nossos princípios são claros e transparentes. Acolhemos a todos sem distinção de raça, cor, sexo, gênero, língua, opinião política, credo ou qualquer distinção proveniente de outra natureza. Temos o direito de exercer nosso culto com liberdade e segurança.
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Umbanda Portas Abertas
Por ser um ferrenho pregador da liberdade do ser humano, por convicção não estou filiado a nenhuma Federação ou Confederação para não ter que obedecer qualquer regra humana ou política. Não quero dizer que a liberdade seja absoluta, ela vai até onde inicia a liberdade de outro. O respeito, a educação, a honestidade e o bom senso são os reguladores do comportamento de todos que estiverem sob a tutela do terreiro de todos nós.
Não gosto de segredos e adoro desmistificar o que por conveniência está mistificado por alguns pregadores carentes da ousadia. Não posso entender uma religião que não possa caminhar com a modernidade, a humildade e coragem para mudar conceitos, descobrindo e adotando novos valores.
O que hoje é tido como certo pode ser modificado diante de uma evidência mais forte. É assim que penso e assim vou agir até onde minha força possa me manter. Gosto da franqueza e não admito traição. Não ligo o que pensam de mim, mas respeito o pensamento dos outros. Entendo o erro, mas não aceito a exploração da religião. Não admito o uso do sangue como elemento de trabalho, por respeito à vida dos animais. Meus mestres são os espíritos e só deles recebo ordens.
Depois desta apresentação, sinto-me mais à vontade para modestamente organizar um curso de orientação da Umbanda dirigido aos integrantes do nosso terreiro e também a quem queira dele tirar algum proveito.

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Pai Lelinho
Pai Wellington de Xangô, conhecido como Pai Lelinho, teve seus primeiros contatos com a Umbanda quando menino, mas nunca imaginou que um dia receberia a missão de ser Pai de Santo. Quando criança, teve uma experiência mais breve, pois seus pais frequentavam um terreiro esporadicamente. Foi aos 21 anos, ao se mudar para Curitiba, que conheceu o Terreiro Pai Maneco, onde traçou a sua caminhada e desenvolvimento mediúnico por treze anos.
Começou a frequentar o Terreiro Pai Maneco na assistência, junto aos seus pais e dois irmãos. O que chamou atenção naquela maneira de tocar a Umbanda foi uma consulta com o Caboclo Akuan, entidade que trabalhava com o Pai Fernando de Ogum. Ao ouvir o problema relatado, recomendou à sua família que ascendesse apenas uma vela branca. Isso causou surpresa, porque com isso entendeu que a prática da Umbanda pode ser feita através de simples atos de fé e humildade, sem extravagâncias.

Antes de iniciarmos um estudo sobre as várias faces da Umbanda devemos perguntar: por que ela existe, qual a sua estrutura e qual a sua finalidade? A Umbanda é uma religião litúrgica e está ligada com a manifestação dos espíritos na matéria, tendo como base da evolução do espírito a reencarnação, e segundo o que as entidades nos dão notícias, ela foi cuidadosamente elaborada pelo Astral Superior para servir ao povo brasileiro, com a manifestação dos espíritos que quando encarnados fizeram parte da História do Brasil e estão com ela envolvidos, caso dos índios, dos pretos africanos e seus descendentes e dos mestiços dos índios e pretos, índios e brancos, que são os chamados Caboclos e os Pretos e Brancos, que formam a linha dos Pretos Velhos.
Foi explicado pelo Caboclo 7 Encruzilhadas que esses espíritos não podiam se manifestar como guias nas sessões espíritas tradicionais por serem considerados atrasados. Para sanar essa discriminação a Umbanda foi introduzida em nossa cultura. A diferença da linha Kardecista e a Umbanda é que a primeira só trabalha com a energia dos médiuns e do espírito, enquanto a nossa Umbanda, além disso, manipula os elementos Terra, Ar, Fogo e Água – explorando o conhecimento dos índios e pretos, através das Ervas, Ponteiros, Imagens, Charutos, Pólvora (fundango) e Guias de proteção, além da grafia mágica da Pemba, giz de forma oval.
Ela aceita e usa a força dos elementais, que são os Duendes (terra e ar), Salamandras (fogo) e Ondinas (água). Além do Triangulo Espiritual (Caboclo, Preto Velho e Criança) fazem parte da Umbanda várias linhas, como ciganos, boiadeiros, baianos, marinheiros, médicos, orientais que alimentam a parte esotérica e outras que podem eventualmente serem chamadas.
A grande força da Umbanda está com a Quimbanda, onde trabalham os Exus, a esquerda da Umbanda, formada por espíritos também ligados à História do Brasil, no caso os dominadores do nosso Pais, os Europeus.
Esse é um resumo para dar idéia da grandeza da Umbanda, que adiante vamos esmiuçar. Embora a Umbanda tenha raiz Africana, afinal os escravos e seus descendentes fazem parte do triangulo Caboclos-Pretos-Crianças, ela está muito distante do Candomblé, uma religião autentica da África e que conflita bastante com os fundamentos da Umbanda, que não vou mencionar por não ser um entendido do Candomblé.
A Umbanda foi oficialmente declarada como religião em 1908, mas esse episódio está sendo relegado a plano secundário por várias correntes importantes, que pregam a Umbanda como existente antes desta data. Nós adotamos a data da oficialização do Zélio de Moraes e os seus ensinamentos básicos, embora todas as correntes merecem respeito. O tempo vai corrigir as distorções entre os pregadores através da lei do uso e do costume.
O primeiro terreiro de Umbanda fundado oficialmente no Brasil foi a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, hoje ainda em pleno funcionamento sob a responsabilidade da filha do sr. Zélio de Moraes, sra. Zilméia de Moraes.
Apesar de sua cultura indígena, o Caboclo Sete Encruzilhadas deixou bem claro que a Umbanda tem a sua base fundada no Evangelho de Jesus Cristo, e a relação com a Igreja Católica pelo nome N.S. da Piedade fincou fortes raízes entre as duas religiões, em concreta discordância do Candomblé, que não usa o sincretismo com os Santos católicos.
Fica bem claro que o sincretismo já era forte quando foi criada a Umbanda, uma vez que ela foi criada em 1908, vinte anos depois da Lei Áurea promulgada pela Princesa Isa bel , e o nome da N.S. da Piedade foi reverenciado no primeiro terreiro brasileiro, o do sr. Zélio de Moraes. Esse fato esclarece a razão da Umbanda estar mais ligada com o Catolicismo que com o Kardecismo e Candomblé.
Se foi criada a Umbanda como uma religião organizada por espíritos superiores, ela tem um objetivo ainda não bem entendido por nós. Sua função maior é lidar com espíritos que fazem o mal, e devemos considerar de grande importância saber o que eles fazem, como podem fazer e o que precisamos agir para interromper a ação indesejável dessas entidades atrasadas e que não são pertencentes ao quadro dos trabalhadores espirituais da Umbanda.
A reencarnação é a mesma base evolutiva do espiritismo tradicional e também de várias outras religiões orientais.
Se fazem parte dela os espíritos que quando encarnados tiveram uma atuação positiva ou negativa em nosso País, devemos tentar entender como eles se manifestam dentro da Umbanda.
O triângulo espiritual da Umbanda está formado pelos caboclos, pretos-velhos e crianças, mas além deles outros espíritos fazem parte ativa como guias e linhas espirituais.
O espiritismo kardecista trabalha apenas com a vibração da energia dos médiuns e do próprio espírito, enquanto a Umbanda, além disso, manipula as forças da Natureza, o que lhe dá maior potencial de solução dos problemas.
Pela natureza da religião, dá para entender que as linhas têm especialidades de trabalhos, cada uma trabalhando de uma forma e com característicos próprios com a intenção de resolver problemas de formas diferentes.
Alguns autores entendem que a Quimbanda é uma religião que não é a Umbanda, entretanto a Umbanda usa, manda e encaminha para a Quimbanda tipos de trabalhos que estão na especialidade dos Exus e das Pombas-gira.
Candomblé não é Umbanda e misturar as duas religiões em uma só descaracteriza as duas religiões, não sendo nem Umbanda e nem Candomblé. Nós devemos seguir a Umbanda sem misturar com o Candomblé. Como não sou conhecedor do Candomblé, quem quiser ver as suas diferenças deve estudá-las em livros especializados, entre os quais recomendo o de Pierre Verger.
Os Exus são, pelo que entendemos, espíritos que também tiveram envolvimento com a história do Brasil. São espíritos de grande inteligência e importância, que viveram com essas qualidades na mesma época do descobrimento. Mais adiante, vamos estudá-los com mais profundidade na tentativa de desmistificar as caras demoníacas, chifres e patas de bode que o folclore e o engano popular impuseram a eles, embora eles não desmintam claramente esse erro, talvez para esconderem as verdadeiras identidades, pois pela lei do carma estão à serviço de seus subjugados na época do descobrimento.
O culto e a prática da Umbanda dividem-se em três partes: a física, a mediúnica e a espiritual. Física é o terreiro, mediúnica são os médiuns e espiritual os espíritos e toda força invisível que atua sobre a física e a mediúnica.
No terreiro é onde se praticam os trabalhos espirituais. Como parâmetro vamos descrever o Terreiro Pai Barnabé de Angola, que no fim vai ser igual a todos, tendo em vista que os demais podem diferenciar em número de médiuns, tamanho ou Orixá mandante, mas são semelhantes. Dentro da construção física o espaço do nosso terreiro é de forma redonda e é onde se faz as giras e está localizado o Congá. No meio do terreiro tem uma estrela com o ponto do Caboclo Akuan que cobre um buraco onde foram enterradas as armas do Orixá Ogum, sendo a segurança do terreiro e dela é que vem todo o axé da casa. Em volta fica a parte destinada à assistência. Nos fundos tem o roncó e a Casa dos Exus, sobre os quais falarei adiante. Quando se entra no terreiro no espaço destinado aos trabalhos, é respeitoso ir na estrela da segurança e batendo o dedo indicador sobre ele, leva-lo à testa, na cabeça e na nuca em respeito a segurança da esquerda, e cumprimentar mesmo mentalmente, saudando a Umbanda, o pai-de-cabeça e sua segurança da esquerda. É um ato que faz parte do ritual, simples mas quando feito com amor não deixa de ser uma demonstração de respeito com a Umbanda ou com o Orixá que se está cumprimentando. Defronte ao Congá, o procedimento é o mesmo.
PARTE ESPIRITUAL
A Constituição Brasileira garante a liberdade do culto das religiões. Vejam como a liberdade é difícil, pois uma Constituição tem que garanti-la, quando deveria ser o direito de qualquer cidadão sem a necessidade de estar sob a tutela de regras inseridas em Leis. Com a constituição em baixo do braço, a criação dos Terreiros de Umbanda fica subordinada a pequena esfera burocrática e a vontade de um grupo e uma mãe ou pai-de-santo. Eles variam nos rituais, mas um dos princípios já consagrado na Umbanda é que os terreiros têm a proteção de um dos sete Orixás e seus trabalhos sempre são abertos com a proteção da linha. No Terreiro Pai Barnabé de Angola, o chefe espiritual é o Caboclo Akuan, da linha de Ogum, à qual eu pertenço. Por isso que os trabalhos são abertos com a chamada desta linha, para depois ser chamada outra. No nosso próprio Terreiro, outros três dirigentes comandam outras giras, todos criados em nossa casa, mas com Orixás diferentes. A proteção da Quimbanda fica por conta do Exu Tranca Ruas das Almas, por ser o meu protetor na esquerda.
ENGOMA
Engoma é o conjunto de instrumentos que formam a música do terreiro. Tradicionalmente a base de toda engoma são os atabaques. Eles são considerados sagrados e são cruzados pelas entidades. Eles têm nome: Rum, Rumpi e Lê, o maior, o médio e o pequeno. No início a Umbanda não usava a música, só as palmas que mantinham o ritmo dos pontos cantados. Isso explica-se porque a Umbanda era proibida e o som na noite indicava os locais dos trabalhos que eram feitos escondidos. Até hoje no Terreiro N.S. da Piedade, o primeiro do Brasil e criado pelo sr. Zélio de Moraes, não existe o hábito dos atabaques. Eles foram trazidos para a Umbanda do Candomblé. Eu entendo a música como um elemento de ligação da corrente, uma harmonia vocal e um bem estar que se transforma em alegria. Por isso a engoma em nosso terreiro foi enriquecida, além dos atabaques, com outros instrumentos como o violão, o bumbo, o pandeiro, o chocalho, agogô, flauta, a cabaça e outros, inclusive um piano que é tocado em ocasiões especiais. Vamos introduzir também a cuíca para que intermediando os pontos tradicionais da Umbanda, seja cantado o samba , a nossa música brasileira dentro da religião também brasileira. Acho fundamental a qualidade da engoma e do bom gosto na escolha das músicas cantadas, inclusive músicas populares.
PONTOS CANTADOS
A Umbanda é regida pela música. Todo seu ritual é por ela comandado, o que se chama ponto cantado. Quando a corrente entra no terreiro já o faz sob o Hino da Umbanda, a defumação, a abertura dos trabalhos, o chamado dos espíritos para arriarem e subirem. Chamamos pontos de chamada ou linha. Ponto de linha é quando se faz o chamado dos espíritos em geral dentro de suas respectivas linhas. Quando se canta o ponto de linha, qualquer orixá da linha chamada pode arriar. Para eles deixarem o terreiro, canta-se o ponto de subida, é quando, em um terreiro organizado, todos devem se despedir sem a necessidade da hierarquia ordenar verbalmente. O ponto individual é para chamar um determinado espírito. Normalmente é ele quem deixa a letra e música que funciona como um mantra. Vou dar um exemplo: o José vai andando na rua quando alguém o chama pelo nome. Ele para em atendimento ao som de seu nome. Mas se ao invés de José for dito Pedro, ele continua seu caminho por saber que o assunto não é com ele. Com o espírito acontece o mesmo. A entidade está lá na Aruanda ou em algum lugar, quando houve que está sendo cantando em algum Terreiro o seu ponto individual, imediatamente ele atende e arria. O ponto cantado é muito respeitado pelas entidades e um não incorpora no ponto do outro. A não ser que não seja orixá e sim um obssessor.
TRONQUEIRA
Todo terreiro tem em sua entrada uma pequena casinha onde está assentada a segurança do Exu Tranca Ruas. Chamamos de Tronqueira. Dentro estão as armas do Exu, como a segurança do centro do terreiro, e permanece sempre alimentado com velas, bebidas, charutos e às vezes comidas. Sua função é cuidar da segurança externa do terreiro, por isso deve-se cumprimentá-la antes de entrar no terreiro.
A comida que se oferece ao Orixá é o Amalá e é um grande campo de força. Muita gente pensa que a finalidade de um amalá é dar de comer aos espíritos. Erro grosseiro porque o espírito de luz não tem nenhuma necessidade de comidas humanas, por não terem mais o corpo físico. O amalá é um ritual que se faz com elementos que vibram na sintonia dos espíritos, que eles usam para criar um campo de força. O amalá reúne a força do médium, do Orixá e dos espíritos que vêm aceitar e se comprometer a executar o trabalho. Muitos pais-de-santo que por um motivo ou outro não possuem terreiro, trabalham com muita eficiência somente através das entregas aos Orixás.
Em momentos de dificuldade, para a cura da saúde, o equilíbrio e a paz familiar, levantar as forças pela energia, e muitas outras necessidades, um amalá bem feito e direcionado à entidade certa resolve o problema. Pela quantidade de situações fica difícil enumerá-las nesta oportunidade. Cada objetivo tem que haver um trabalho certo, com a entidade especialista, e tudo isso ainda sob a inspiração de uma intuição. Essa matéria deve ser analisada quando estivermos mais aprofundados nessas nossas conversações.
Vou fazer uma observação de grande importância: o umbandista pela sua religião que manipula e usa a natureza como para seus trabalhos é um ecologista em potencial. Qualquer material não biodegradável não deve ser deixado no local da entrega do amalá, exceto as velas que se queimam e derretem. Se isso não for possível a pessoa tem a obrigação de ir um dois dias após levantar toda a entrega feita. Os materiais usados nos amalás são: velas, charutos, cigarros, fumo, caixa de fósforos entreaberta, frutas, comidas e bebidas. Todo esse material são biodegradáveis. O alguidar que é onde se deposita a comida, segundo algumas correntes, forma uma ligação do amalá com o elemento terra por ser feito de barro. Mas se a entrega for feita no chão, o contato se dá mesma forma, razão porque recomendo que ao invés do alguidar, que se faça um canto bonito com folhas naturais, como folha de bananeira e outras de forma larga, e que se use uma porunga substituindo o alguidar de barro. Deixar ponteiro e facas que não têm nenhum efeito no amalá choca com a natural energia ecológica do umbandista. Copos de vidro ou copos de plásticos também caem no absurdo e no erro, por não terem nenhuma energia. Para a bebida deve ser usado um coitê e o que sobrar na garrafa deve ser jogado em círculo em volta do trabalho. Não vejo necessidade das fitas coloridas, se o trabalho pode ser cercado com raízes de folhagens extraídas do próprio mato.
Todo amalá deve ter um objetivo específico. Não se faz um amalá só por fazer.
O termo comumente usado para a feitura do amalá é “entrega”, o que não está errado considerando que estamos depositando materiais para os espíritos os transformarem em um campo de força.
Deve-se imaginar que durante a construção de uma entrega o amor e carinho daquele que o está construindo, de certa forma transmite sua energia. As vibrações do Orixá ajudam a aumentar a energia do trabalho que será somado com a do espírito que for utiliza-lo.
A intuição deve fazer parte da construção de um amalá. Existem receitas das entregas de cada Orixá ou espírito, mas ele não deve ser somente uma cópia. Alguns elementos que devem ser acrescentados nos amalás, desde que não fuja da vibração do orixá a quem se entrega, vem por intuição.
O médium só se tornará independente, ou seja não vai depender da orientação de um espírito incorporado, quando ele souber manipular os elementos que constroem um campo de força através do amalá.
Quando estivermos falando sobre os elementos usados na Umbanda, como o fundango, ponteiros, pembas e outros, vamos descobrir que eles dificilmente devem ser usados em uma entrega.
Quem faz uma entrega com materiais que possam agredir a natureza não deixa de ser um baita egoísta que não se importa com a humanidade e o semelhante.
Os escravos africanos por imposição de seus senhores eram obrigados a cultuar a religião católica. Para obedecerem a ordem, eles de um modo esperto ajeitavam sobre o altar um pano branco com as imagens dos santos católicos, mas em baixo do pano branco construíam os amalás de seus Orixás a quem cultuavam, com um olho no Santo e outro do Orixá. Com o costume houve o sincretismo com a Igreja Católica, até hoje respeitado pela Umbanda.
A influência da Igreja Católica foi tão forte que todos os rituais da Umbanda são muito parecidos, como o casamento e o batizado, as preces no congá e ele próprio com as imagens dos santos.
Mencionei apenas alguns nomes de destaque como pregadores da Umbanda, apenas para mostrar que existem divergências entre os estudiosos da matéria. Se a confusão já começa no culto dos sete Orixás, é perfeitamente compreensível que também aconteça com o culto e sua liturgia.
Continuando as divergências extraímos do livro Eu e a Umbanda, do pai-de-santo Edmundo Rodrigues Ferro, um quadro comparando os nomes dos Santos Católicos nos Estados brasileiros, onde inclusive não existe a unanimidade, ficando bem claro que esse quadro é apenas demonstrativo e pode estar incompleto.
Orixá Africano
Santo Católico
Estado
Ogum São Bartolomeu BA
Ogum Santo Antonio BA
Ogum São Jorge RJ – PE – PR
Abaluaiê São Francisco BR
Abaluaiê São Sebastião RJ – PE
Omulu ou Omulum São Lázaro RJ – PE – PR
Omulu ou Omulum São Bento BA
Nana Buruquê Sant´Ana RJ – PE – PR
Oxum Nossa Senhora das Candeias BA
Oxum Nossa Senhora da Conceição RJ – PR
Iemanjá Virgem Maria PR
Iemanjá Nossa Senhora da Conceição RJ
Iansã Santa Bárbara RJ – BA – PR
Oxalá Nosso Senhor do Bonfim RJ – PE – PR
Oxalá Jesus Cristo PR
Oxossi São Sebastião RJ – PR
Oxossi São Jorge BR
Ibeji São Cosme e Damião RJ – BA – PR – PE
Xangô São Jerônimo Vários Estados
Um fato que merece um destaque especial é a incontestável prova que a Umbanda já era praticada antes da data oficial de sua anunciação, tanto que ela, quando criada em 1908, já adotou o sincretismo com a Igreja Católica, quando sabemos que a escravidão já havia acabado com a promulgação da Lei Áurea em 13 de Maio de 1888.
Médium é aquele que tem a sensibilidade de sentir e intermediar o mundo espiritual. Existem vários tipos de mediunidade, como o de incorporação, de intuição, vidência ocular e intuitiva, psicógrafo, de efeitos físicos e mais uma porção de divisões. Como temos por objetivo a Umbanda, vamos estudar mais aqueles que são usadas tradicionalmente, que são os de incorporação e intuição.
Por não sentir nenhuma vibração, muita gente acha que não tem mediunidade. Acontece que muitas vezes a mediunidade ainda não foi mexida e ela fica adormecida até que uma energia qualquer, somada com a vontade e dedicação do médium, desperte essa sensibilidade. Existem pequenos sinais que são típicos de quem é médium. O primeiro deles é o medo. A pessoa tem medo porque acredita no mundo dos fantasmas, o mundo paralelo. Se ela crê nisso, é porque pressente a existência deles, não deixando de ser um sinal de fé. Aquele que não tem nenhuma sensibilidade, nada sente e nada percebe, é o que não tem medo. Arrepios, palpites e adivinhações, telepatia e outros dons semelhantes, são sem dúvida outra indicação da mediunidade.
A fé e a vontade de conhecer o sobrenatural é um típico indicio da mediunidade. Conheci vários médiuns que faziam parte da corrente e não sentiam a mínima vibração, e após alguns anos tornaram-se excelentes médiuns de incorporação e consulta. O interessante que o médium necessita de uma religião, seja ela qual for.
Tem pessoas que por comodismo dizem que acreditam em Deus e isso lhes basta. No fundo são médiuns, pessoas medrosas, que não têm a coragem de negar a existência do Criador, não por cultura religiosa, mas por inequívoca demonstração de recusarem um vinculo com as obrigações de um compromisso religioso. Os que mais sentem a manifestação dos espíritos junto de si, são os que, mais uma vez pelo medo, correm em busca das religiões para negarem a incomoda presença de um espírito junto de si. Existem manifestações dos espíritos em médiuns latentes tão impressionantes que se a família tiver preconceito com o espiritismo, acaba levando-os aos médicos e até a internação em hospitais psiquiátricos.
Conheci dois irmãos, com 16 anos e com 14, que eram dominados por espíritos tão animalizados que derrubavam os meninos e os deixavam no chão como se fossem animais, e entravam em violenta briga através de mordidas e arranhões, mas nunca com gestos humanos. Sua mãe, uma simplória senhora, guardou um pé de arruda ao seu alcance para que quando isso acontecesse, fizesse uma benção mágica que tinham lhe ensinado. Feito isso, os dois irmãos avançaram sobre ela, com as mesmas características de animais ferozes, arrancaram de sua mão o pé de arruda e o pastaram – se assim pode ser explicado, o que fez com que ambos, pela toxidade da planta, tivessem que ter no dia seguinte assistência médica para curar a dor de barriga.
Esses irmãos, após cuidadoso desenvolvimento mediúnico em nosso grupo, foram excepcionais médiuns, tanto que a moça incorporada deixava mensagens maravilhosas, toda ela em forma de poesia. Fiz essa pequena introdução, para chegarmos, por partes, até o método das incorporações.
Vamos iniciar com os médiuns novos, ávidos da espiritualidade conhecida através dos trabalhos de um grupo. Prefiro exemplificar o médium comum, aquele que não tem nada lhe incomodando ou prejudicando que o faça procurar cura no espiritismo. É o médium que gostou e se empolgou com a religião e algo lhe puxa para dentro da corrente, alguma coisa dentro do seu coração que lhe induz a acreditar nos espíritos.
O médium entra tímido, sente-se deslocado e algumas vezes até envergonhado, achando que todas as pessoas do terreiro a estão observando. Começa assim até ficar mais solto e à vontade, quando sente a vibração do terreiro e das linhas espirituais que estão trabalhando. Como sente arrepios, tonturas e até mesmo um certo descontrole, incorpora e sai andando no terreiro sem saber o que fazer. Aqui quero explicar às pessoas que os dirigentes, de qualquer terreiro, estão observando e cuidando para que o médium não caia, não se machuque e muito menos se exceda na incorporação. É o que chamamos incorporação na vibração, ou seja, o espírito está ao seu lado, mas ainda não incorporou como devia. Chama-se o médium de umbanda de ·cavalo·, acho que para podemos explicar bem como as coisas acontecem e para frente vamos explorar bastante essas comparações. Um cavalo ainda não domado é separado para a doma.
O domador, antes de montá-lo, com bastante paciência, ensina-o a usar o cabresto, o freio e com muita cautela põe sobre seu lombo a sela, para que ele sinta um leve peso, já o acostumando para finalmente ser montado. É o que acontece com o médium que incorpora na vibração. Vale dizer que o treinamento do cavalo é longo, levando, às vezes, meses para que o domador possa montá-lo. Com os médiuns é a mesma coisa: demora, por isso tenham paciência, mas de repente, em qualquer momento, o espírito incorpora em sua totalidade, e da mesma forma que o cavalo vai sentir um peso mais forte, o médium vai sentir a presença do seu com certeza maravilhoso orixá, e faz com que o médium passe a outra fase de seu desenvolvimento.
O médium na Umbanda é chamado de cavalo porque o espírito toma seu mental e também o corpo, diferente do kardecismo, no qual o espírito toma só o mental do médium.